quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A Rosa que encontrei...




Hoje encontrei esta rosa, abandonada, caída no chão. Ela não chegou a ser pisada, mas estava sim, muito machucada... algumas de suas pétalas externas caíram, outras estavam partidas. Eu a peguei e fui tirando as pétalas sujas e feias que a rodeavam, quando percebi que respirava!
Timidamente, um pouco envergonhada de conversar com uma rosa em público, perguntei-a baixinho: "Hei, rosa, você está viva?". Ela suspirou, como que respondendo "não sei...", e eu me alegrei muito por ver que estava, sim, viva! Esperançosa (e curiosa) que sou, perguntei-a: "Como veio parar aqui, no chão, despetalada?".
Ela suspirou novamente e num fôlego só me respondeu: "Eu fui esquecida, caí e ninguém se importou em voltar."

Fiquei olhando pra ela, ainda mais curiosa e um pouco assustada (afinal, quantas pessoas que você conhece pessoalmente já conversaram com uma rosa?). Ela percebeu que não me saciara com sua resposta e, sem constranger-se com meu insistente olhar, explicou-me ressentida: "Sabe, eu nasci para os outros... Fui plantada já com o intuito de que um dia pertencesse a alguém. Recentemente me colheram e eu, alegre, já sabia: estava prestes a cumprir meu destino! E foi então que conheci o amor... Me entreguei sem pensar a quem, por algum tempo, pertenci. E eu amei essa pessoa como nunca antes fui capaz de amar, sequer quem me plantou e regou por tantos anos recebeu de mim tamanho amor... ... Eu me sentia tão feliz em estar seguindo o rumo da minha vida que nem me importei de não ser a única do arranjo! Mas esta pessoa que tanto amei, passando correndo pela vida, até me viu cair, mas não teve paciência de me esperar ou sequer desejo suficiente pra voltar e me tirar do chão frio, afinal, existem tantas rosas no mundo, não é? ... E é por isso que estou aqui.".

Eu não sabia o que dizer a ela, então, sentimental como sou, comecei a chorar. E ao contrário do que todos fazem num intuito falho de me acalmar, ela não pediu que eu não chorasse, só me observou... Então, quando meu coração se desfez daquele aperto, eu pensei um pouco e então disse a ela: "Fico feliz de ter te encontrado, mesmo que triste e despetalada! Mas não sei agora o que devo fazer... Tenho vontade de cuidar de ti, és tão bela! Mas não quero que me pertença, és-me tão semelhante e eu não dou conta sequer das lágrimas que de mim caem, imagine minha dor em vê-la com o tempo murchar, secar e morrer!".

Ela suspirou, como que sorrindo, e me disse: "Faz assim: me leva contigo e me mantenha regada de afeto, pois para você que tem um coração tão aberto como minhas pétalas, que chega a produzir água em teus olhos, eu, por mais que murche, serei sempre uma boa companhia; não digo que eu vá amar-te logo, acho que nunca amarei tão intensamente quanto amo a quem me deixou cair... Mas ainda bem que me encontraste, porque quando aquela pessoa perceber o quanto eu a amava e que não faço mais parte de seu buquê, talvez eu já tenha morrido em teus braços..."